segunda-feira, 17 de agosto de 2015
O círculo
“A mortalidade ou a corruptibilidade do corpo não pode afetar a
imortalidade ou a incorruptibilidade da alma.”
(De um manuscrito rosacruz)
Um círculo, um símbolo sagrado, o que gira sempre. Dentro dele nada
começa e nada termina, tudo existe. A vida, que mais é do que uma alegoria
do círculo? A morte, que mais é do que a aparência de um círculo extinto?
No Livro do Gênesis, encontrei que Deus, certa vez, apanhou barro,
esculpiu o homem e, para transformar sua criatura em algo factível, soprou
dentro dele a essência anímica do universo. Se a origem da alma humana foi
mesmo esse sopro divino dentro daquela figura inanimada de barro, entendo
melhor o porquê de eu me pretender definitivo: é que guardo comigo a
reminiscência desse hálito primordial.
Estou diante do espelho. Cadê a alma? Só vejo o homem perecível e
mortal. Os cabelos precocemente grisalhos. O corpo maduro (ou gordo?). As
rugas inevitáveis. Os medos ridículos. O olhar impreciso. O não sei o quê.
Eu me olho. Sou o quê? Um homem sujeito aos resfriados, aos vírus,
às bactérias e às angústias. Coisa fugaz. Tenho pela frente menos vida e
mais mortalidade. Reajo. Simulo imortalidade com palavras, sou um livro
que pode ser lido e relido, mas como evitar a última leitura?
Escrevi este texto imaginando a vida e a morte como um círculo. Eu
dentro dele. Em alguma parte dele. Escrevendo, atônito. No meio dessa
escrita, supus ver, subitamente, o olhar de Deus. Mas como se Deus não tem
olhos e se Deus é um Círculo?
Diante dessa constatação, me faltaram palavras para continuar. Não é
que eu tivesse perdido a inspiração, é que repentinamente eu submergi por
completo na inspiração. Acolhido pelo Círculo, emudeci. Ainda estou mudo.
Espantosamente mudo. Talvez esse espanto, essa palavra que nunca perde a
condição de ideia, talvez isso é o que seja a alma – alguma coisa mais ou
menos imune aos resfriados, aos vírus, às bactérias e às angústias. Que não
vira coriza. Que não vira pneumonia. Que não vira infecção. Que não vira
câncer. Que não vira morte. Que não vira nada porque nada é.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
quando o homem começa a se olhar dentro de si, acredito que dali vem as respostas, que também passam a atordoa-los, semelhante quando se ve uma pessoa descendo ao sepulcro. Que se pensa, um local escuro, sem conforto, e ai lembre que quando vivo precisamos de lus. E agora só escuridão ou não, ate por que dormimos ou não.
ResponderExcluirsão incógnitas! viver com elas e ser feliz na medida do possível: o desafio!
ExcluirE claro a vida sempre será um circulo, as vezes torto, uma coisa liga a outra. como uma roda que de uma forma ou outra tende a ser movimentar para viver.
ResponderExcluire percorremos o círculo, não é mesmo?
Excluir