sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Será que o céu fala da alma humana?

    Diz a astrologia que os céus têm muito a ver com nosso modo de ser: se somos alegres, se somos tristes, se pensamos demais, se gostamos mais de poesia ou de prosa, se nos predispomos a amar mais do que odiar. Certa vez, uma astróloga esboçou meu mapa astral e me disse tantas coisas que chegou a me atordoar. Nunca mais nos encontramos para falar das constelações e das casas astrais, porque eu perdi o gosto de perscrutar futuros e deixei de crer na suposta transcendência proveniente dos astros no universo. 

    Ainda assim, quando me enxergo em meu trajeto na vida, de vez em quando sou tomado pelas palavras daquela astróloga, que muito provavelmente jamais imaginou o surgimento desse vírus letal que já levou tantos entes queridos. Disse a ela, em nosso último encontro, que não quero mais saber de futuro. O futuro é a finitude, e quem deseja saber daquilo que se esgota inexoravelmente? Para que se preocupar com os ventos fortes que derrubam as árvores? Não é melhor ser somente árvore e cumprir o destino de árvore? Ou ser apenas ente mortal e aceitar que nossa historicidade, feita dos nossos gestos mais autênticos, terá por fim o esquecimento, na maioria das vezes, e muito pouco seremos lembrados pela historiografia?

     Escrevi este breve texto apenas pelo prazer de fazer a inutilidade necessária. Escrever para nada. Sem esperar nada. Talvez para tirar o nó da garganta, a opressão do peito. Talvez para conquistar a oportunidade de esboçar um sorriso e sonhar com o mato e o rio de minha infância. Lá não havia tanto pensamento, tanta lógica; havia só a vida em sua naturalidade; a vida sendo...A vida que me bastava.

    Talvez para isso sirva também  a literatura. Para desencobrir a vida que vai se escondendo com o passar do tempo.